Sunday, June 10, 2007

Transferência para o CMRJ

Ao dar sequência ao tema lembranças dos pais, citarei um fato bastante significativo que marcou minha vida.
Em 1949, no meio do ano, meu pai foi transferido de Curitiba para o Rio de janeiro, a fim de servir na Diretoria de Ensino do Exército. Eu cursava naquela época o Colégio Estadual do Paraná e com a mudança fui matriculado no Colégio Militar do Rio de janeiro, no regime de internato, em razão da residência dos pais, no bairro da Glória, ser distante do CM, em São Francisco Xavier ( nos dias atuais o metrô tornaria tudo fácil ).

Ciente de que entraria em um dos melhores colégios da cidade,fiquei convencido de encontrar muita dificuldade para enfrentar o terceiro ano do ginásio, sabidamente um dos mais difíceis, e principalmente por iniciar no segundo semestre. Confesso ter ficado um tanto assustado.

Pois bem, no primeiro dia que lá estive, ainda acompanhado de meu pai, por acaso demos de cara com o comandante, na época Cel Jair Dantas Ribeiro, que mais à frente chegou a ser Ministro da Guerra. O homem tinha cara de poucos amigos e tão logo meu pai foi cumprimentá-lo, para atender às exigências dos regulamentos, foi curto e grosso, dizendo “ os alunos que vêm de fora dificilmente passam de ano”. Essa observação contundente e nada incentivadora em termos educacionais, foi prontamente rebatida pelo meu pai com a seguinte frase: Entendo Sr Cel, todavia não medirei esforços para meu filho conseguir passar de ano.

Na verdade, nesse momento ele simplesmente ratificou o compromisso que espontaneamente fizera comigo.

E assim foi! Diariamente, e por longo período, ele ao término do expediente na Diretoria do Ensino, ao invés de ir para a casa onde morava, tomava a direção do Colégio e de lá saia altas horas da noite, comprometendo seriamente o descanso a que teria direito. Só um pai amoroso e dedicado se proporia a ter uma conduta dessas. Muito lucrei com essa ajuda, recebi ensinamentos que valeram para a continuidade da vida e mesmo raspando a trave consegui superar o obstáculo. No ano seguinte, já melhor preparado, não tive tanta dificuldade.

Felizmente, sempre que as oportunidades surgiam, mostrava minha gratidão pela ajuda proporcionada e me considero privilegiado de ter um pai tão bondoso, determinado e amigo incondicional dos filhos e netos.


Para terminar este texto, torna-se importante citar que em momento algum ele estabeleceu qualquer tipo de cobrança, mas de minha parte retribuí com tudo que podia dar de mim. Nós dois fomos vitoriosos.Não foi fácil sair de um sistema de ensino menos exigente para outro bem mais difícil.
Por Sylvio Barra

2 comments:

Anonymous said...

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Anonymous said...

Fiquei emocionada ao ler esta passagem da vida do Vô Rubica. Já ouvi muitas histórias sobre o nosso avô, mas ainda não tinha lido uma. Mas em todas as essas histórias, o que sempre sobressai é o caráter, a retidão, a firmeza, a sabedoria e a generosidade que sempre estiveram presentes em sua vida e são exemplos e orgulho para todos nós. Sinto-me uma "sortuda" por ser neta dele!
Ana Lucia Marcassa Barra