Friday, June 22, 2007

"Bom Vinho e questão de grafia"


Minha amiga, Salomé, certa vez emitiu uma opinião sobre mim, que em muitos momentos me é lembrada pelo Geraldo. Ela disse que eu sou " de uma discrição milenar!" Certamente é uma das características pessoais que herdei do pai. Pouquíssimas vezes o ouvimos fazer comentários impróprios ou desairosos às pessoas.


Tal qualidade também deve ter sido muito apropriada às funções que exerceu, como por exemplo, na Segunda Seção do Quartel General, que lidava com assuntos confidenciais. Deve ter sido nessa ocasião que houve uma visita do Presidente Jânio Quadros a Curitiba, quando este determinou que ficaria hospedado na casa do Comandante da Região, que era muito bem situada na Rua XV, logo acima da Reitoria. Pois bem, só muitos anos depois é que papai comentou conosco (estritamente aos de casa), que o Presidente tinha feito a exigência de ficar na casa do General - e este teve que ir para um hotel - e ainda ordenou que se providenciasse caixas e mais caixas de um vinho português chamado " Casa da Calçada", que era de sua preferência.


Papai, que sempre preferiu uma boa gasosa ou Água Tônica a bebidas alcoólicas, nunca ouvira falar dessa marca de vinho e decerto teve que pesquisar na cidade, para abastecer a casa para a tal visita. Anos depois, sempre que mencionávamos o nome deste vinho, o pai tinha um sorriso meio maroto, como se não quisesse mostrar totalmente sua desaprovação àquelas 'exigências' - e acabávamos dando boas risadas!...


Nessa época em que ele trabalhava na Segunda Seção, por vezes ele tinha que ir até fora de hora ao Quartel para atender aos telegramas ( ainda era o tempo do Rádio, telex, etc.), que decerto só ele poderia decodificar. Não fazia comentários em casa e, para nós, era tranquilo que fosse assim. Tínhamos uma empregada doméstica - nome Virca, ou Elvira - muito simples e ingênua, além de semi-analfabeta. Para se esmerar nas tarefas, tomava nota de recados telefônicos escrevendo mal e mal o português, pois na região do interior, de onde viera, só falavam ucraniano.

Um dia, quando o pai chegou em casa, viu o seguinte recado: "Senhor Coronel é um xifrado"! Com toda a sua bondade e paciência ele só deu uma boa gargalhada, pois entendeu que o que ela queria comunicar é que havia chegado um telegrama cifrado para ele ir receber lá no Q G . Longe da empregada, ele fez um ar sério e não perdeu a oportunidade de mostrá-lo para a mamãe, como que pedindo explicações: " venha aqui, Elza, leia este bilhete ". E ... vida afora o xis da questão nos fez dar muitas risadas!

Por Gilda Barra

1 comment:

Anonymous said...

Muito boa essa história! Então ele não soltou nenhuma outra fofoca sobre o Jânio?